Com texto e direção de Gordo Neto, Almanaque da Lua faz um delicioso passeio em torno das histórias, lendas e causos torno da Lua. Criado a partir de uma pesquisa em almanaques e periódicos que traziam curiosidades sobre o satélite, a montagem mergulhou no cancioneiro popular brasileiro, trazendo uma musicalidade marcante e reafirmando a parceria que seguiu para toda trajetória do grupo: a direção musical de Jarbas Bittencourt. Almanaque da Lua marcou a aproximação do grupo como o teatro, que se tornou mais crescente nas montagens posteriores.

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Almanaque da Lua“, 2003, reitera a vocação musical do Vilavox, mas avança na direção do teatro com “cara de teatro”: tínhamos uma historinha (de amor, claro!) pra contar e a contamos por meio de canções próprias (já compuseram ali, além de Jarbas Bittencourt, Roberto Brito e Gordo Neto) e da MPB, de esboços de personagens e de um foco temático: o feminino/a lua.

Almanaque também trazia uma certa inocência teatral, mas por outro lado, engajado. Lá em 2003 já cantava Marcia Limma, nossa Medeia Negra de 2018, a música Não, Adão!:

“Eu não vim da sua Costela, não, Adão.
Não me chame, eu não vou
Não me deito por baixo de ti
Não me envergo diante de ti
Sou meio e fim, fim e meio, meio e fim”.

A canção de Gordo e Jarbas parece hoje “falar mais aos ouvidos cansados” do que àquela época, em que a roda de de violão num luau à beira mar soava mais melódico e harmônico. Tempos menos dicotômicos.

Almanaque” se organiza em torno da voz cantada e naquele momento já havíamos experimentado trabalhar com Graça Reis, Gilberto Bahia, Netinho e o próprio Jarbas. Com este foco no canto e arranjos vocais desafiadores,  “Almanaque” também oportuniza o elenco a aprofundar um pouco a voz falada, já que o texto trazia cenas curtas e delineava personagens/tipos que invocavam o ator/cantor a transitar para lá e para cá.

Enquanto em “Trilhas” o coro dobrava com a gravação do disco, ou seja, fazíamos uma espécie de “show com play back”, em “Almanaque” a execução do canto ao vivo, a presença de Jason Bittencourt tocando e o uso de instrumentos musicais percussivos pelos próprios atores eleva a responsabilidade musical do grupo, ao passo que se encontra teatral o suficiente para se entender não mais como um coro musical performático, mas sim como um grupo teatral com forte relação com a música.

No álbum musical “Trilhas do Vilavox” e aqui, em forma de clip musical, oferecemos as músicas “Que eu Ande” e “Não, Adão!“, originais do espetáculo e que instiga-nos a uma provocação: canções feitas para teatro estão circunscritas ao seu uso a serviço dele? Uma canção feita para uma peça, se tirada do seu contexto, perde o seu significado, sua função? A gente não sabia responder muito bem e justo por isso decidimos por transformar as nossas “canções para teatro” em canções, simplesmente. Gostamos do resultado e queremos compartilhar, mesmo sem respostas claras.  Pode ser, pelo menos, uma forma de reduzir o caráter efêmero do teatro, que fica um pouco alí, em cada canção, teimando em não sucumbir.

https://youtu.be/H6Naxp1fxO4
Depoimento de Jarbas Bittencourt

https://youtu.be/fnfzIHTHTQI
Depoimento de Gordo Neto

https://youtu.be/ewiPSLunR5A
Espetáculo Almanaque da Lua

https://youtu.be/MTPzoofcDFo
Clip/Canção “Não, Adão”

https://youtu.be/mN_AnoakE3k
Clip/Canção “Que eu Ande