Numa releitura dos mitos gregos, a montagem Labirintos contou com a direção de Patrick Campell, que propôs um mergulho nas histórias de Teseu, Minotauro e Pasifae. A montagem trouxe outra marca do grupo que é a dramaturgia escrita coletivamente, compreendendo como texto não somente a palavra, mas toda textura de elementos que compõem a cena (musicalidade, cenografia, sentidos, figurinos, iluminação e a opcão pela exploração de elementos de espetacularidade). Movimento, canto, técnicas circenses, vôos, sonoridades ajudaram a contar essas histórias, que teve temporada única em 2008.

Os três mitos escolhidos têm em comum a relação direta com a construção do labirinto no qual está encarcerado a figura do Minotauro, metade homem, metade touro. As histórias se encontram nesse espaço arquetípico, que remonta o desconhecido, o inconsciente e tantas relações a serem criadas a partir da mitologia. Mais do que contar as histórias, o espetáculo se propõe a recriar esse labirinto, utilizando o espaço do Passeio Público e do próprio teatro Vila Velha. O público, mais do que um espectador passivo, será uma peça desse próprio ambiente cenográfico. Ao conhecer os segredos e facetas dos personagens, também será possível desvendar as faces pouco vistas do teatro, tudo aquilo que não é palco e que nem sempre está sob os holofotes.

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Patrick Campbel, diretor de “Labirintos“, foi quem trouxe ao Vilavox o estudo dos ingredientes vocais. Aqueles usados por Márcia Limma em “Canteiros de Rosa“. Havia uma curiosidade nossa no trabalho vocal com Campbel. A despeito de neste espetáculo não haver quase nada de música autoral, foi nele que conhecemos um universo musical com o qual não tínhamos muita referência. Patrick trouxe pra nós referências musicais balcãs, cuja sonoridade, além de belíssima, trazia também desafios vocais para nós, exigindo uma extensão vocal generosa.  O uso do teatro (Vila Velha) como fonte sonora, tirando de suas pilastras o som percussivo para a cena em que Dédalo, pai de Ícaro ensinava a seu sobrinho Talo seu ofício, para ao final revelar seu assassinato, por inveja, incorpora à cena o som genuíno do espaço ao passo que corrobora para que a imponência da estrutura metálica aliada à dinâmica crescente da música dê ao arquiteto Dádalo a “grandeza” de empurrar o sobrinho, em sua dança da morte, de um despenhadeiro.

O texto falado em “Labirintos” não é dos maiores. A inclinação do diretor na priorização das imagens, do movimento, da cena, nos fez também buscar alternativas pra trazer para “Labirintos“, também, o verbo. “Lembro-me que a certa altura, já momentos antes de improvisar uma cena, Daniel Farias me procura para pensarmos em alguma coisa(texto) para Talo, que a princípio seria um personagem sem voz. Rapidamente nos reunimos no cabaré pra um café e criamos um texto curto, que acabou mesmo entrando num dos momentos mais marcantes da peça, o vôo de Dédalo e Ícaro.”, conta Gordo Neto.

Esta característica de Labirintos, de se concentrar em músicas não autorais não possibilitou que esteja presente no nosso álbum musical, o que lamentamos.  Mas se consideramos o contexto e a nossa história teatral, vocal e musical, este espetáculo, de 2008, ganha relevo se (re)visto nos dias de hoje. Sua itinerância e uso do espaço com fonte sonora é retomada em O Castelo da Torre; a construção simbólica de uma possível Media de Marcia Lima, parece, pode ter começado ali, passado pelo Castelo da Torre (2015) e chegado, inteira, com sua Medeia Negra(2018).

Depoimento de Jarbas Bittencourt
Depoimento de Patrick Campbel
Espetáculo Labirintos